quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A má educação

No último dia em que estive em Washington, D.C., no Natal passado, fui à Renwick Gallery com a L.; como tal, quando entrei na loja tive de me portar bem, i.e., não pude comprar quase nada. Por um lado, não tinha espaço na bagagem, pois nessa manhã tinha enviado, por correio, três caixas de livros, prendas de Natal, e roupa para casa; por outro lado, estando a L. na proximidade, ela iria dizer-me que eu não precisava de nada do que tinha comprado. Contentei-me em comprar postais e planear exibi-los numa moldura, quem sabe num fundo preto, para pendurar lá em casa -- é uma maneira muito barata de se conseguir boa arte para decorar.

Não apreciei muito o atendimento na loja, pois a moça não me deu as boas-vindas, o que é quase um pecado mortal nos EUA: quando entramos em lojas e restaurantes, dão-nos sempre as boas-vindas. Mas, pronto, ela estava prestes a sair do turno e dei um desconto. Quando estava a pagar, fui atendida pelo rapaz que tinha acabado de entrar no serviço. O meu total era $6.31 e ele perguntou-me se eu não queria arredondar para cima e doar o arredondamento à galeria. Pensei por um segundo e respondi-lhe que não. O mocinho ficou bravo e em cada gesto que fez para me atender notava-se que estava com vontade de me dar uma boa bordoada. Eu fiz de conta que não percebi que lhe tinha causado o mau-humor. Achei-o e à rapariga que não me cumprimentou um bocado mal-educados.

Cheguei ao pé da L. e contei o sucedido. Ela ficou deliciada e dizia: "Que bom! Não deste nada. Tu estás sempre a dar, não tens nada de dar. Eles estão sempre a pedir..." Efectivamente estão sempre a pedir e, no dia anterior, ela tinha-me ralhado porque eu tinha arredondado para cima numa loja. Nem lhe disse que, quando fui à Phillips Collection, fiz uma doação de mais de $10 à entrada. Também fiz outras doações que já me esqueci. E depois pago um balúrdio de impostos federais e convenhamos que só vou a DC uma vez por acaso, logo tenho o direito de a consciência não me pesar se decidir não doar $0,69, se me apetecer.

O empregado, não sabendo as circunstâncias da minha vida, não tinha nada de se portar infantilmente. Podia ter-me dito que, se eu tivesse oportunidade, podia deixar algum dinheiro à entrada ou podia levar em conta que uma doação directa ao museu podia reduzir os meus impostos, etc. Mas, não; ele apenas se limitou a demonstrar que eu o tinha irritado.

Homens irritados comigo é a coisa mais natural do meu mundo. Até acho que devo estar doente se há um dia em que não irrito nenhum...






1 comentário:

  1. Se esse empregado estiver a ficar contagiado pelo Trump, "o mal dele é sono"? Pois...

    O sono pode ficar definitivamente escangalhado

    https://www.publico.pt/2017/08/17/sociedade/noticia/o-sono-pode-ficar-definitivamente-escangalhado-1782531
    17 de agosto de 2017, 8:41 (lido em 17/Agos./17]

    Isabel Lucas entrevistou Teresa Paiva [71 anos, neurologista especializada no Sono (de dormir/descansar e dormir na forma, irritações por falta de sono com qualidade, mitos sobre o somo e o sono dos justos, etc., digo eu)]

    «(...)
    Trump. Tornou-se o presidente dos Estados Unidos, a chacota do mundo. Diz que dorme quatro horas. Veja os erros nas funções executivas, as frases que lhe saem da boca para fora sem pensar, os imensos conflitos que arranja, as coisas estranhas que desencadeia. E todos os problemas verdadeiramente sérios que queria resolver... nenhum é resolvido. Era o muro, o Obamacare e a Coreia do Norte. Ele não resolve nem atenua. Acho que ele é o protótipo de uma pessoa com privação de sono que toma decisões erradas, e que mente e não tem umas boas funções executivas. É o exemplo de uma pessoa que está privada de sono e não funciona bem.
    (...)»

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